ANGOLA, UM PAÍS NA BUSCA DE UMA REPÚBLICA

Matias Miguéis, ex-vice-presidente, José Miguel e Ferro e Aço, dirigentes, decidiram continuar a luta, passando-se para as hostes da UPA/FNLA. Neto nunca lhes perdoou a afronta e, em 1964, quando escalaram Brazzaville, tendo Neto se apercebido, ordenou uma caça aos homens. Presos foram transportados para a base. Torturados foram colocados vivos em buracos, com a cabeça de fora, tendo sido nessa condição alvo das mais abjectas sevícias, ao ponto de lhes urinarem. 48 horas depois sucumbiram.

Por William Tonet

Esta morte, coloca ainda Neto, como cúmplice da morte de Deolinda Rodrigues e companheiras do Destacamento Feminino, pois o comandante Gourgel da FNLA ao aperceber-se da prisão de Matias Migueis, manteve como reféns, as guerrilheiras do MPLA, propondo a sua troca pela libertação dos seus dirigentes. Neto recusou e, ao não revogar a medida, aos 02 de Março, num dia de chuva, as militantes foram também fuziladas e enterradas a beira rio, na fronteira com Angola.

Ainda existem comandantes da FNLA vivos e do MPLA, como Ingo, para testemunhar essa tragédia.

Em 1968, no Leste, Neto protagonizou outro crime bárbaro, ao mandar queimar, por divergências, o célebre comandante Paganini, Estrela, Ziguerou e outros, acusados de feitiçaria e tentativa de destituir a direcção em Brazzaville. Anos depois, mandou assassinar, na 1.ª Região o Comandante Miro (Lourenço Casimiro), na trama existem impressões digitais dos actuais generais na reforma, César Kiluange e Benigno Vieira Lopes, pois eles sabem como tudo aconteceu e deveriam, ainda em vida pronunciar-se.

Por tudo isso, a minha geografia mental considera, António Agostinho Neto, um médico profundamente assassino…

MORTE DA EDUCAÇÃO E ENSINO

Um sistema de governo em que os ditos revolucionários e pseudo nacionalistas, nunca quiseram, verdadeiramente, a implantação de uma República virada para o combate as assimetrias regionais, que à época não eram muitas, nem o fomento da Educação e Ensino.

Os programas técnico profissionais e as Escolas Industriais, Comerciais e Agrárias, como os IVA, responsáveis pela formação de regentes agrícolas, foram eliminadas, dando lugares a PUNIV, com frágeis programas políticos, em que muitos professores, jamais tinham lido Marx ou Lenine.

Os cubanos, búlgaros, russos, jugoslavos, sem domínio da língua portuguesa, enchiam as salas de aulas.

Foi a destruição consciente de todo um sistema.

No ensino superior, em 50 anos o MPLA não conseguiu criar uma universidade pública com campus universitário, nem massificou, através do estímulo aos professores o seu patamar, a nível regional e continental, para nossa desgraça colectiva, e orgulho da casta dirigente, que defende a “burralização”, navega nos últimos lugares.

SONHO DE SUBSTITUIR O COLONO E LIDERAR A CORRUPÇÃO

A liderança de Agostinho Neto o que mais ambicionava era o de se substituir as mordomias e luxos dos fascistas colonialistas, com empregadas, carros e riqueza ilícita.

Tanto assim é que a primeira medida do MPLA/ Agostinho Neto, foi a de se distanciar por falta de comprometimento do socialismo, por sequer terem lido

Marx, Engls ou Lenine, aliando-se a economia de mercado capitalista especuladora, com a criação das lojas dos dirigentes, onde havia todos os produtos consumidos pela elite colonial e as lojas do povo, onde na maioria das vezes, o produto de maior exposição era o modess (penso higiénico feminino), seguido de arroz e óleo.

Neto, na realidade foi o pioneiro da corrupção, pois alguém se quisesse bife, queijo teria de corromper um empregado ou membro do comité central do MPLA, para acessar a loja dos dirigentes.

Ainda no âmbito do desmoronamento da economia pujante, Neto rejeitou, também, o programa económico de um economista revolucionário, Carlos Rocha Dilolwa comprometido com as aspirações populares, dos operários e camponeses.

JUSTIÇA ASSIMILADA DE OLHOS ABERTOS

Na minha terra, infelizmente, os preceitos legais são espezinhados 50 anos depois da proclamação da (in)dependência partidocrata.

A justiça dirigida por juristas formados em Portugal: Diógenes Boavida, Manuel Rui Monteiro, Fernando José de França Dias Van-Dúnem, Maria do Carmo Medina, Adérito Correia, Fernando de Oliveira, viu traídos, pelos falsos revolucionários, todos os fundamentos do direito. Aos adversários e inimigos internos e externos, era negado o contraditório e o justo processo legal.

O método de Lombroso, criminalizar pelas feições, era na maioria das vezes, adoptado para a tortura, prisões ou assassinatos, assente na máxima de Agostinho Neto: “Não vamos perder tempo com julgamentos”.

DESTRUIÇÃO DO PARQUE INDUSTRIAL E AGRO-PECUÁRIO

Ainda em 1975 a numerosa classe operária e camponesa, empoderada pelo desenvolvimento industrial e agro-pecuário herdado do colonialismo, foi literal e conscientemente destruída. Paulatinamente, foi acabando com as comemorações do 1.º de Maio (ausência de fábricas) e cooptou os sindicados, com mordomias e corrupção.

O MPLA gizou, magistralmente, a destruição do parque industrial, transformando-o de norte a sul do mar ao leste, em armazéns de produtos importados.

Os silos de cereais, instalados do sul ao leste, ao longo do Caminho de Ferro de Benguela, autênticas reservas de cereais, o regime transformou-os em espaços vazios, sem utilidade económica. Verdadeiro crime económico.

O mesmo aconteceu com as cooperativas. E, de seguida, as “lágrimas” pararam de regar os campos, por furto ou destruição das bombas de água, levando a seca.

E foi com esta estratégia que o país saiu do pódio mundial de café, arroz, milho, banana, ração animal, sisal, sal, peixe fresco e seco, entre outros.

O país começou, vergonhosamente a importar, até tomates…e com isso, os angolanos começaram a vegetar nos campos da fome e miséria.

Até mesmo os oceanos, foram retirados da soberania dos angolanos, não pelos antigos colonos, mas pelos falsos revolucionários, com a realização de contratos espúrios com a União Europeia, a China, Rússia, Vietname e outros que com arrastões levaram ao desemprego milhares de pescadores, que garantia o peixe a preço económico na mesa dos cidadãos.

A lambula, que não se comprava, hoje 5 peixinhos chegam aos Kwz: 500,00.

EXCLUSÃO DOS NOSSOS BRANCOS REVÚS

Um dos grandes erros de Agostinho Neto foi a de considerar muitos brancos, como colonialistas e fascistas. Misturou tudo e todos. Discriminou. Excluiu-os da Lei da Nacionalidade, na estratégia para o encerramento do desenvolvimento económico. Iniciou, subtilmente, uma perseguição aos grandes fazendeiros, muitos já da terceira geração, com raízes no país (que sequer conheciam Portugal).

A maioria não queria regressar.

Ainda resistiu, durante um certo tempo, mas o apontar das armas, não lhes deixou outra opção. Foi selvaticamente corrida. Expulsa! Muitos, chegados a Portugal, não se adaptaram, enveredaram para o alcoolismo e, morreram com mágoa e desgosto, porque, infelizmente, os seus carrascos não fizeram melhor.

O ROSTO, A MÁSCARA, O DESCALABRO

No final de todos estes anos temos o pico da fome, desemprego, miséria, falta de educação, saúde, epidemias e muita, muita pobreza.

O país atingiu o zero, no quesito dignidade da pessoa humana, principalmente, da maioria dos 20 milhões de pretos pobres.

Nos 38 anos de José Eduardo dos Santos, o povo está cansado da sua ditadura, mas, hoje reconhecesse, que quando estivesse acossado assumia-se como líder e contornava o clamor popular, não aderindo cegamente as políticas do FMI. Era, politicamente correcto com os seus camaradas de partido e amigos. Não os ofendia no estrangeiro ou em praça pública. Defendia-os, muitas vezes por escrito. Enriqueceu a maioria.

Quando em 2027, ascendeu João Lourenço muitos, talvez, ingenuamente, acreditaram que fosse fazer melhor com o antecessor. Engano total.

Sem liturgia da convivência, humildade e visão de Estado é o oposto do antecessor, combatido até a morte. A promessa de combater a corrupção esfumou-se e ela triplicou, nos seus consulados. A fome, miséria, desemprego, aumentaram exponencialmente.

Actualmente tem como maior aliado, as armas, canhões, chefias policiais e militares, que vão contendo as ondas de indignação popular, que não param de crescer.

José Eduardo tinha cara… João Lourenço tem máscara.

Há fome no mundo. Em Angola é absurda. Há miséria, não se justifica! Ela multiplica-se, num chão de ricas terras aráveis e bacias hidrográficas invejáveis.

Nota.  Texto publicado no livro “50 anos de Independências Africanas Vistos pelos seus Cidadãos”, obra coordenada por Eugénio Costa Almeida e Rui Verde, editado pele Elivulu (Angola) e Perfil Criativo – Edições (Portugal – UE).

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